CARTA DO MINISTRO GERAL DA ORDEM DOS FRADES MENORES ÀS IRMÃS
CONCEPCIONISTAS, POR OCASIÃO DA FESTA DE SANTA BEATRIZ DA SILVA - 17 DE
AGOSTO DE 2014
Paz
e bem,
Queridas
Irmãs Concepcionistas.
A
festa de santa Beatriz é uma tradicional e feliz ocasião para chegar até vós,
expressando-o visivelmente, minha cordial proximidade de irmão, tal e como vem
fazendo a Ordem dos Irmãos Menores, acompanhando primeiro a Santa Beatriz, em
seu valente empreendimento fundacional, e depois às suas filhas, através dos
diversos reveses pelos quais passou vossa Ordem ao longo da história.
Este
ano, o Papa Francisco dirigiu à Igreja, e dentro dela também aos consagrados,
uma preciosa Exortação Apostólica a partir da qual quero refletir convosco à
luz de vossa identidade concepcionista. Convido-as, portanto, a reler a
Exortação Evangelii Gaudium com a
mente de Santa Beatriz, no coração de Maria Imaculada, onde ela guardava e
meditava todas as coisas, a partir da responsabilidade de “manter viva a
lâmpada que o Espírito Santo acendeu em Santa Beatriz” (CCGG 7), atentas aos
sinais dos tempos, para anunciar também vós, hoje, a alegria do Evangelho, na
vivência fiel e generosa de vosso carisma concepcionista, com toda vitalidade e
o impulso de Boa Nova que ele encerra e é capaz de comunicar aos homens e
mulheres de hoje, convertendo-se assim, a imitação de Maria, em “prolongação
ativa da ação divina na história da Salvação e na Igreja” (CCGG 11).
Alegres na alegria de Cristo Esposo
A
alegria nasce do encontro com Cristo (EG 1,3) já que Ele mesmo é a Boa Nova que
se nos anuncia. Vós expressais e viveis este encontro como “desposório com
Cristo Redentor” (R 1). No dia de vossa Profissão Religiosa iniciastes vossa
jornada através de um “divino caminho” (R 2) impulsionadas pelo desejo de
fazer-vos “um só espírito com Cristo Esposo” (R 30). Que vossa alegria nasça da
alegria que Ele tem por cada uma de vós (cf. Is 62,5), se fazeis assim “ninguém
poderá tirar vosso gozo” (Jo 16, 22). Que vossa preocupação resida em
“fazer-vos cada vez mais gratas a Cristo Esposo” mediante a vivência da
pobreza, “abraçada alegremente” (R 19), na escuta obediente (R 16), desejando
ser vistas unicamente por Ele (R 29) com esse olhar único que nasce do amor de
eleição. “Cristo é o Evangelho eterno, mas sua riqueza e sua formosura são
inesgotáveis. Ele é sempre jovem e fonte de eterna novidade” (EG 11).
Imitadoras da alegria da Plena de Graça
Como
o anjo saudou a Maria convidando-a a alegrar-se, atrevo-me a me dirigir a cada
uma de vós com esta mesma exortação: Alegra-te, irmã concepcionista! E recorda
que a alegria de Maria reside em sua plenitude de graça e na presença de Deus
nela: O Senhor está contigo!
Como
a Plena de Graça, “respondei ao amor infinito de Deus com vosso sim” (CCGG 10),
eco do fiat de Maria, “acolhei com
generosidade as iniciativas do Pai” (CCGG 11), abri vossos corações para a
presença de Deus, que “fala na sua Palavra, nas chamadas do Espírito no íntimo
de vossa consciência, na Igreja, na fraternidade, nos acontecimentos” (CCGG
40).
Contemplai
a alegria de Maria que canta as grandes obras que o Poderoso fez nela depois de
haver olhado a pequenez de sua escrava; a alegria desta Mãe que oferece seu
Filho em Belém para ser adorado, que o encontra em Jerusalém depois de uma
ardente busca; a alegria de haver adiantado a “hora” e ver alegres os noivos em
Caná; a alegria de seu encontro com o Filho ressuscitado, o gozo de sua
Assunção junto ao Pai.
Guardai
em vosso coração e meditai incansavelmente no silêncio de vossa vida
contemplativa, a alegria de Maria Imaculada. Levai-a em vosso pensamento,
irradiai a Maria em vosso rosto, expressai-a em vossas palavras, deixai que ela
mova vossas ações; que a alegria de Maria, humilde e pobre, determine vosso
estilo de viver como concepcionistas (Cf. R 44). Não é em vão que a alegria é
parte de vosso programa de formação (CCGG 125).
Considerada
a partir de Maria, que é o único modo como se pode entender uma filha de Santa
Beatriz, a irmã concepcionista é, necessariamente, uma mulher nova que entendeu
sua existência a partir do “reconhecimento humilde das obras que Deus faz nela
e vive em alegre confiança de quem espera tudo de Deus” (CCGG 45). Deste modo,
“fazendo-se escrava do Senhor, como Maria, proclama a soberania absoluta de
Deus” (CCGG 15). Contemplai e compartilhai a alegria de Maria, e com ela
participai de sua missão evangelizadora na Igreja, perseverando na oração (CCGG
73)!
Partícipes da alegria de Santa Beatriz
Convido-as
também a compartilhar a alegria de Santa Beatriz. Bem podemos afirmar de vossa
fundadora que “em meio às provas cresceu sua alegria” (2Cor 8,2). A jovem
Beatriz havia desfrutado da devoção a Imaculada já desde sua terna infância, em
Campo Maior. Esta arraigada devoção brotou em sua oração durante sua prisão em
Tordesilhas, enchendo-a de consolo. Foi aí que teve a dita de contemplar a
Maria, vestida de branco e azul, e experimentar sua mediação materna.
“Abandonando
a vaidade do século” (R 1), viveu seu “desposório com Cristo Redentor” (R 1),
abrindo-se assim a brecha às Irmãs Concepcionistas que seguiram este mesmo
caminho. Por trás do véu branco que cobria seu rosto, Santa Beatriz havia
abraçado a Cristo e se ia configurando dia a dia com seu Esposo.
Os
trinta anos de espera em São Domingos, não foram somente anos de prova e
obscuridade para Santa Beatriz, senão também de crescimento até a união com
Deus, e portanto, um tempo de alegria. Essa alegria que não nasce do ruído e
que, por ser silenciosa, é mais íntima e autêntica. Essa alegria que se vive
serenamente e se transmite delicadamente. Santo Domingo foi para Santa Beatriz
tempo de “fé, de oração constante, em disponibilidade ao plano de Deus, em
ocultamento silencioso”, como se pede hoje a suas filhas (CCGG 4). Tempo em que
Santa Beatriz ia realizando sua “oblação pessoal a Nosso Redentor e sua Mãe
Gloriosa, entregando-se a Ele como hóstia viva” (R 2). Uma vida assim demonstra
que vossa vida de clausura não transcorre na obscuridade ou na frustração, senão
que é portadora de fecundidade. A entrega de Santa Beatriz deu ao final de sua
vida como fruto fecundo, o nascimento da Ordem da Imaculada Conceição. É a
alegria do grão de trigo que caído na terra dá fruto abundante. A estrela que
brilhou em sua fronte e a luz de seu rosto no momento de sua morte, nos ensinam
que oblação, luz e alegria vão sempre de mãos dadas.
Anteriormente,
a perda e o encontro da Bula Fundacional nos recordam ademais que as provas,
vividas em oração e esperança, vão seguidas de grandes alegrias. Finalmente, o
gozo com que Santa Beatriz acolheu a notícia de sua passagem para a eternidade
e a prontidão com que se dispôs para isso, é um convite a viver com os olhos
postos nas realidades eternas.
Crescendo juntas na verdadeira alegria
Do
mesmo modo que Maria está presente de maneira determinante ao longo de vossas
Constituições, também estas estão impregnadas de alegria. Tudo quando constitui
esse desenvolvimento de vossa vida concepcionista é motivo de gozo e assim é
abraçado e vivido por vós: o fato de ter sido “seduzidas pelo amor eterno de
Deus” (CCGG 4; 70), de haver feito “experiência de um amor gratuito que
liberta, unifica e transforma” (CCGG 49), de “seguir a Cristo” (CCGG 1; 13; 25;
69), como “bem supremo” (CCGG 72), e segui-lo “honrando a Imaculada” (R 1; CCGG
13; 69), participar em sua “humildade e pobreza havendo abandonado tudo com
alegria” (R 7-8; CCGG 41; 43), “viver o trabalho como graça” (CCGG 177), poder
“fazer da própria existência resposta de amor que serve, ama, honra e adora com
limpo coração e mente pura” (CCGG 55), viver “guardando fielmente no coração a
Palavra, a imitação da Mãe de Jesus” (CCGG 77), “crescer no conhecimento cada
vez mais íntimo e verdadeiro do Senhor” (CCGG 80), poder “participar na
perfeita alegria pela aceitação alegre e paciente dos padecimentos desta vida”
(CCGG 94), viver acolhendo “a cada irmã como dom do Senhor” e ser ao mesmo
tempo dom para a fraternidade (CCGG 100). Todo isso as converte, como em Santa
Beatriz, em “exemplo da gozosa experiência de Deus na pura transparência do
Espírito” (CCGG 51), e as transforma em “mensagem de amor, paz e alegria que
Deus oferece ao mundo” (CCGG 59).
Iluminando o mundo com a vossa alegria
Vossa
alegria não é só vossa, tem sua origem em Cristo e deve ser anunciada a todos
os homens e mulheres de hoje em um mundo que necessita mais que nunca que sejam
elevadas vozes de esperança e alegria. Por isso as animo a viver intensamente a
“contemplação já que ela é vosso apostolado” carregado de “misteriosa fecundidade
apostólica, por ele fazeis presentes o novo céu e a nova terra onde Maria está
em corpo e alma” (CCGG 15).
Vossa
vida fraterna, “inspirada no mistério de Maria, é também modelo singular na
nova família do Reino” (CCGG 98). Vivei o gozo de ser e ter irmãs, a alegria da
entrega em todas as dimensões de vossa vida comunitária, de estar “próxima da
irmã com dificuldade acompanhando-a com solicitude amorosa”, “de compartilhar
responsabilidades”..., definitivamente, vivei a alegria do serviço e a comunhão
fraterna (CCGG 99-103). Vivendo com fidelidade vossa vocação ajudais os homens
a cumprir os deveres de seu próprio estado e sereis para eles manifestação dos
bens celestiais presentes já neste mundo” (CCGG 116).
Conclusão: Não deixeis que vos roubem a
vossa alegria!
“Nossa
tristeza infinita só se cura com um infinito amor, e é precisamente ante Jesus
Crucificado onde reconhecemos todo seu amor” (EG 265;268), isto é
essencialmente o que viveis desde a vossa clausura: a participação no mistério
Pascal de Cristo (CCGG 58).
Queridas
irmãs, o Papa não ignora que vivemos tempos difíceis e assim o recorda em sua
exortação, mas nos diz que não é por isso que devemos renunciar a nossa
alegria. Vossas comunidades enfrentam numerosas dificuldades – idade avançada de
algumas irmãs, redução de mosteiros, escassez de vocações, uma sociedade
laicizada que quer ignorar a Deus, etc. -. Com o Papa Francisco vos exorto a
não deixardes que vos roubem a alegria evangelizadora (EG 83). Há fatores negativos no mundo que não dependem
diretamente de nós, mas recordai que “vosso estilo de vida será tanto mais
convocador quanto melhor viva cada uma sua própria vocação contemplativa no
amor, fidelidade e alegria” (CCGG 138).
Alegra-te,
Irmã Concepcionista, tu que vives servindo, contemplando e celebrando o
mistério de Maria em sua Imaculada Conceição! (CCGG 9).
Feliz
festa de Santa Beatriz!!
Frei Michael Antonny Perry, OFM
Ministro Geral da OFM
(Tradução: Ir. Lindinalva de
Maria, OIC – Salvador)
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