HISTÓRICO


NASCIMENTO DE BEATRIZ 
E SUA INFÂNCIA

Beatriz nasceu em Ceuta – África por volta do ano 1424 ou 1426 filha de Dom Rui Gomes da Silva e Dona Isabel de Meneses era a segunda dentre os onze filhos que nasceram neste abençoado lar, sua Infância foi serena e calma no seio de uma família profundamente cristã. Foram seus mestres os Religiosos Franciscanos que, ao par de sólida piedade, incutiram-lhe um terno amor à Maria Santíssima, no mistério da sua Imaculada Conceição.
A uma alma delicada unia Beatriz uma natureza cativante, e deslumbrante formosura.

AMOR DE BEATRIZ À MARIA
(Este quadro encontra-se ainda hoje, na Igreja da Misericórdia em Campo Maior)
Todos os seus Biógrafos narram sua grande piedade e virtude desde sua infância, e os testemunhos para o Processo de sua Canonização declaram que desde menina foi devotíssima do mistério da Imaculada Conceição.
Madre Catarina de Santo Antonio, com grande efusão escreveu:
“Para mim, não houve santo na Igreja de Deus, que no tocante ao Mistério da Imaculada Conceição, tenha feito a Deus tão grande serviço como esta varonil mulher.”
Como prova de seu amor e veneração à Virgem pode servir-nos o seguinte acontecimento. “ Querendo D. Rui Gomes ornar com uma imagem da Virgem a Capela particular, mandou vir da Itália um afamado pintor. Chegando este, encantado com a beleza da jovem Beatriz, quis tê-la por modelo da Virgem. Depois de muitos rogos, teve que obedecer às ordens de seu pai, porem não conseguiram que abrissem seus olhos encantadores. Assim o artista pode reproduzir as feições da bela donzela, resultando num quadro de Maria com os olhos semicerrados e de sublime modéstia ladeada por São Francisco e Santo Antônio .
NA CORTE DE CASTELA 
Em 1447, a Infanta de Portugal Dona Isabel sua prima, desposava o Rei viúvo D. João de Castela. O casamento real deu ocasião a Dona Isabel de visitar a casa de D. Rui Gomes da Silva, em Campo Maior. Encantada com as prendas morais e físicas de jovem Beatriz, Isabel quis tê-la como primeira dama de honra.
Com o consentimento dos pais, deixou Beatriz a sua querida Campo Maior, e com sacrifícios abandonou o calmo remanso da casa paterna para entrar no burburinho da Côrte.
Como se lê nas páginas de um escrito de 1526, Beatriz “alem de descender da alta nobreza, era uma donzela muito graciosa, superando todas as companheiras em formosura e graça.” O encanto de Beatriz fascinava a quantos a conheciam, muitos jovens a solicitavam em matrimônio; porém Beatriz vivia em regiões mais elevadas, alimentava-se de anseios mais nobres. Dentro de si guardava um segredo: “DESEJAVA SER TODA DE DEUS”. Os encantos físicos e as qualidades morais de Beatriz tornavam-na a favorita da Côrte. O próprio Rei lhe dedicava uma admiração particular, pois sentia necessidade de encontrar, em meio a tanta falsidade, um coração reto que o compreendesse e em quem pudesse confiar.


O PECADO DE SER 
BELA 

(Baú onde foi encerrada Santa Beatriz)
Beatriz era bela e pudorosa. Esforçava-se por manter sua conduta irrepreensível em meio a tantas frivolidades, ciúmes e vaidades. Porém apesar de tudo, certos palacianos maliciosos e maldosos a caluniaram de ter secretos encontros amorosos com o Rei.  
A isto não resistiu os ciúmes da Rainha Isabel, quando ouviu os rumores da calúnia, começou a duvidar da fidelidade de seu marido o Rei e viu em Beatriz uma possível rival. Queria então fazê-la desaparecer. Começou a arquitetar uma maneira de fazê-la desaparecer.
O ciúme é sempre engenhoso... Certa noite a Rainha convidou Beatriz para que a seguisse e simulando querer contar-lhe um segredo, a levou por um solitário caminho do palácio até chegar num lugar que tinha preparado de antemão. Ao passar junto dele, a Rainha lhe deu um forte empurrão fazendo-a cair dentro do grande baú, e cerrando-o rapidamente com chave, abandonou-a na escuridão.
Beatriz gritou, suplicou ... Era inocente nunca dera ouvidos aos galanteios, nem salientara ambição alguma. Mas o ciúme da Rainha já se transformara em ódio e o ódio é cego.
Beatriz estava sepultada viva, as trevas a cercavam e faltava-lhe todo o auxilio humano. Condenada a morrer asfixiada dentro de um baú! Era jovem e inocente. O desespero rondava-lhe a alma. 
Da Terra nada podia esperar. Voltou-se então para o Céu. Entregou-se nas mãos de Deus e se encomendou à Ssma. Virgem com grande devoção. A vida parecia fugir, quando se viu envolta em vivíssima luz. E nesta luz divisou a Virgem Santíssima, resplandecente como os raios do sol, vestida com hábito branco e manto azul celeste, em seus braços um formoso Menino, ferindo com uma lança a cabeça de um horrendo dragão. Depois de confortá-la com carinho maternal lhe disse : 
Beatriz agradecida, se entregou como serva e escrava, e consagrando sua virgindade se ofereceu em corpo e alma ao serviço de sua Celestial Senhora a Mãe de Deus. A Virgem Santíssima, depois de prometer-lhe que sairia daquele baú com vida, desapareceu, deixando Beatriz numa felicidade indescritível.
Passados porém, três dias, o Tio de Beatriz exigiu explicações da Rainha. Esta levou-a ao lugar onde estava encerrada Beatriz. Levava a certeza de encontrá-la morta, já cadáver, pois ninguém resistiria a tal suplício por muito tempo. Teriam terminado, assim, as rivalidades. Mas terrível surpresa a aguardava. Ao abrir o baú , em lugar de um cadáver hirto e lívido, sem vida, surgiu Beatriz, risonha ... formosa ... cheia de vida ... quase resplandecente. Parecia mais bela, com um sorriso celeste a emoldurar-lhe o doce semblante.
Dois sentimentos chocaram-se no coração da Rainha: a raiva e o pavor. Entre atônita e apavorada, desfaz-se em lágrimas e cai aos pés da donzela com rogos de perdão. Um abraço foi a resposta de Beatriz.
A Rainha que arquitetara o desaparecimento da sua rival, sentiu-se humilhada ao presenciar que o seu ato apenas servira para aumentar o prestigio da sua vítima. E passados os primeiros momentos de emoção, Isabel sentiu a inveja acordar em seu coração. Ordenou a Beatriz que abandonasse a Côrte. 
Para Beatriz, uma alegria, não sentia outro desejo. Três dias depois acompanhada pelo seu Tio, abandonou a Côrte e dirigiu seus passos a Toledo. 
A VIAGEM
O caminho a percorrer era de mais ou menos 230 quilômetros. Cheio de perigos. Guerrilheiros se ocultavam nos bosques e salteadores espreitavam nas gargantas dos vales. 
A certa altura da viagem, de um bosque que ladeava o caminho, saíram dois Frades de Hábito marrom e cordão. Dois Franciscanos. 
Os Frades, porém a saudaram e um deles falava a língua portuguesa. Mais tranqüilizada, perguntou-lhes Beatriz : "Quem sois? Donde vindes?" 
- Tranquilizai-vos. Queremos dar-vos a notícia que estais a caminho para vos tornardes uma das maiores damas da Espanha. E vossas filhas espalhar-se-ão por toda a Terra. 
- Impossível. Ofereci a Deus minha virgindade consagrando-me inteiramente a Ele, jamais casaria com homem algum
- O que dissemos acontecerá. – Disseram eles.
Enquanto ela refletia, desapareceram. Beatriz compreendeu que se tratava de uma mensagem do Céu e que os dois Franciscanos outros não eram que São Francisco de Assis e seu patrício Santo Antonio de Lisboa, a quem ela era muito devota.
NO MOSTEIRO DE SANTO DOMINGO O REAL
Chegando por fim a Toledo e desejosa e paz e santidade, dirigiu-se ao Mosteiro de Santo Domingo o Real. Toma uma decisão. O seu rosto que causou tantos transtornos no palácio e que provocou tantas calúnias no ódio mortal da Rainha, cobriu-o com um véu .Este rosto com toda a sua beleza, totalmente consagrado à Deus. E cobriu o rosto com um véu. 
Ali morou uns trinta anos em qualidade de secular, repartindo sua vida entre trabalho e a oração, sendo um preclaro exemplo de honestidade e virtude. Grande parte da noite passava em oração junto ao Sacrário, donde cresceu em amor à Jesus, e ao mistério da Imaculada. 
Certo tempo depois, morreu o Rei, e a Rainha arrependida do que havia feito com Beatriz, reconhecendo sua inocência, foi a Toledo vê-la e pedi-la perdão. Beatriz, que não lhe tinha guardado ressentimento, não só a perdoou, esquecendo-se completamente o sucedido. Religiosas contemporâneas de Beatriz assim deixaram escrito : “ ... Beatriz teve uma vida de silêncio, de oração, de muita humildade, de penitência e austeridade, mulher de grande Fé, modelo exemplar de virtude para todos.” 

É CHEGADO O MOMENTO


Uma tarde, depois da oração, quando todas as Monjas haviam deixado o Côro, Beatriz em íntimo colóquio com Deus, profundamente envolvida na oração, quando um grande resplendor a iluminou e viu a Santíssima Virgem com as mesmas vestes, que trazia, quando a viu no baú uns trinta anos atrás. A Santíssima Virgem estava sorridente, com o Menino em seus braços lhe disse em uma mescla de amor e firmeza: "Filha, é chegado o momento. Ergue-te e põe em execução a obra a ti confiada. Vai e glorifica a Deus com esta obra. Meu Filho e eu estaremos contigo." 
Beatriz entendeu que soara a hora de Deus, deveria partir para o combate, fixando o olhar em Jesus Crucificado, aceitou todos os trabalhos aos quais sabia que viriam , e pronunciando seu “FIAT” se dispôs a cumprir sem demora os desejos da Santíssima Virgem. 

EM SANTA FÉ
Enquanto Beatriz, recolhida no Mosteiro de São Domingos aguardava a hora que Deus determinara para dar início à sua obra, o trono da Espanha era ocupado pela Rainha Isabel, a Católica. Filha da outra Rainha Isabel. Esta Rainha Isabel a Católica foi íntima amiga de Beatriz. Duas genuínas filhas de São Francisco de Assis. Dois corações voltados para o alto que se compreendiam perfeitamente. Ali no locutório do Mosteiro a Rainha falava dos negócios do Reino que tanto a preocupavam, e Beatriz lhe falava de seus ideais e inspirações. 
A Rainha Isabel entusiasmada por tão bela missão em fundar uma Ordem que glorificasse a Imaculada Conceição de Nossa Senhora, prometeu-lhe ajuda e para que Beatriz desse início à fundação, ofereceu-lhe parte dos Palácios de Galiana, não muito longe do Mosteiro de São Domingos. E deu-lhe também a Igreja dedicada à Virgem Mártir Santa Fé. Bela invocação para quem ia se lançar em um tão importante empreendimento! 
Cheia de confiança e Fé, acompanhada de 12 jovens, deixou Beatriz o Mosteiro de São Domingos e recolheu-se nos Palácios de Galiana adaptado para a Vida Claustral e Igreja Santa Fé. Exercida por tão longo tempo na virtude, podia agora tornar-se Mestra e Mãe. E de fato, começou a dirigir suas 12 companheiras no caminho da perfeição e da Vida Religiosa. E o fazia mais pelo exemplo que pela palavra. E isso tinha grande valor,  por que se a palavra tem a força de comover; o exemplo tem a virtude de atrair.
O pequeno grupo começava a ensaiar os primeiros passos da Vida Concepcionista. Lenta, mas seguramente sob a direção sábia de Beatriz. Enquanto isso, a Rainha Isabel escrevia ao Papa, procurando obter a aprovação da nova Família Religiosa que nascia sob as benção da Imaculada. 
O PAPA INOCÊNCIO VIII APROVA A NOVA ORDEM
(Bula Inter Universa no dia 30 de abril de 1489)
O Papa Inocêncio VIII, pela Bula Inter Universa no dia 30 de abril de 1489, aprovava a Ordem Concepcionista . No mesmo instante em que a Bula era firmada pelo Papa, Beatriz recebeu a notícia por um emissário do Céu, que ela intuiu fosse o Arcanjo São Rafael, de quem fora sempre devotíssima. E anunciou que a mesma seria expedida para Toledo, com seu emissário por navio. 
Fácil imaginar a alegria da Fundadora e de suas companheiras. Mas a esta alegria sucedeu uma grande dor. Passados alguns dias, chegou-lhe a triste notícia que o navio onde viajavam os portadores da Bula havia naufragado, apenas se haviam salvo alguns tripulantes. Tudo o mais perecera no mar. Ferida por tão rude golpe, prostrou-se Beatriz, imersa em grande dor, diante do Santíssimo Sacramento e por três dias, esteve muito aflita pedindo a Deus solução para este problema. Passados três dias, a calma já dominava o espírito de Beatriz. Pensava Deus cuidaria que o Papa expedisse outra Bula e cuidaria também que esta lhe chegasse às mãos. Mas indo a um cofre onde conservava objetos do seu uso, encontrou, sobre ele, um pergaminho que nunca vira ali. Desenrolou-o e notou ser um documento Pontifício para sua grande surpresa e admiração se achava ali a Bula tão desejada. Mas como viera parar ali? Sem dúvida, mais uma delicadeza da Providência Divina, mais uma intervenção bondosa de Deus, por meio da Imaculada Conceição. O Céu velava em mostrar o agrado que nutria por esta obra.
Madre Beatriz via finalmente coroados seus esforços. Em nome de Deus o Papa confirmava solenemente a Ordem da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. 
CRUCIFICADA COM CRISTO
Madre Beatriz e as doze jovens preparavam-se para o dia da Consagração definitiva. Cada dia que passava era para Beatriz mais um motivo de júbilo, pois a aproximava do grande momento. Mas Deus havia disposto as coisas de modo diferente. Faltavam somente dez dias para o solene dia da tomada de Hábito e Profissão das Religiosas e como elo da definitiva inauguração da Nova Ordem lhe aparece a Santíssima Virgem e com voz amorosa lhe diz: “Minha filha, de hoje há dez dias, virei buscar-te para estares comigo no Céu, por que não é vontade de Deus, que gozes aqui na Terra disto que tanto desejas.” E mostrando-lhe a lâmpada que ardia diante do Santíssimo, que depois de apagada por um momento voltava a brilhar lhe disse : “Viste como a luz da lâmpada se apagou e logo voltou a brilhar? Pois assim se passará com tua Ordem. Ao morreres, a Ordem se dissolverá, mas logo volverá a renascer e florescerá de tal maneira que será multiplicada e se extenderá pelo mundo inteiro .” 
Terá o desespero batido à porta do coração de Beatriz? Não absolutamente. Calma e serena chamou o seu Confessor a fim de preparar-se dignamente para a partida. Logo caiu enferma, e a enfermidade a prostrou no leito . E foi ali, no leito de dores que revestiu o Hábito Concepcionista e emitiu os Votos Solenes de viver sempre Obediente, sem Propriedade, em Castidade, com perpétua Clausura.
E assim, unida inseparavelmente a Jesus Cristo, revestida com o Hábito da Conceição, aguardava serena, em seu leito, a ordem de partir. Fizera voto de obediência e partiria ao primeiro aceno do Esposo Divino. Que melhor altar para entregar-se a Deus que o leito de dores? Que maior pompa que a pobreza de uma cela de Mosteiro? Que mais comovente música que os soluços das filhas que a rodeiam? 
Em sua agonia, cercada por suas filhas espirituais e 6 Franciscanos, ao administrá-la os últimos Sacramentos, e ao levantar-se o véu que cobria seu rosto para dar-lhe a Santa Unção, todos se admiravam da formosura de seu rosto que brilhava como um anjo, porém a admiração cresceu ainda mais ao aparecer uma brilhante estrela em sua fronte. Beatriz acabava se entregar sua bendita alma à Deus.
A Primeira Concepcionista recebia do Esposo o Convite : “Vem minha esposa, recebe a coroa que o Senhor te reservou desde toda a eternidade.” Como para os Santos a morte não é uma calamidade, mas uma ventura, pois os leva ao porto por cuja posse lutaram.
PRIMEIRAS GLÓRIAS
Beatriz morreu com grande fama de santidade. Na transladação feita em janeiro de 1515 sucedeu a cura de um cego de nascença, ao aproximar-se da urna com os restos venerandos, a devoção e o culto cresceram. Foi Beatificada no dia 28 de julho de 1926 pelo Papa Pio XI e canonizada no dia 03 de outubro de 1976 pelo Papa Paulo VI, contava a Ordem mais de 150 Mosteiros espalhados pela Europa e nas Américas.
Pelos séculos segue brilhando do Céu a Estrela da Ordem da Imaculada Conceição e sua luz continua iluminando suas Filhas e a todos os cristãos que a invocam com devoção.
Santa Madre Beatriz:
Rogai por nós!

Comentários

  1. Santa Madre Beatriz, realiza o grande milagre de tornar, esta miserável pecadora, uma filha Vossa, como religiosa Concepcionista, amem.

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