“Em existência humilde e
atitude permanente de fé”
                                                                                             (CCGG. 10)



Paz e Bem,
queridas Irmãs Concepcionistas.
 
Na festa de Santa Beatriz da Silva desejo compartilhar com vocês a alegria desta celebração e expressar minha proximidade de irmão no Senhor, em Maria Imaculada e em nosso pai São Francisco. O testemunho de Santa Beatriz , convida a todos nós a caminharmos com fidelidade e firmeza de fé, buscando aderir cada vez mais fortemente a nosso Esposo e Redentor, Jesus Cristo. Que de cada um de nós se possa dizer, a exemplo de Santa Beatriz,: “Deus esteve sempre em sua mente e conduzia sua vida” (Positio).
 
Neste Ano da Fé as convido a contemplar Santa Beatriz como mulher de fé, que foi amadurecendo no coração sua entrega a Deus, seu amor a Jesus Cristo, seu deixar-se moldar pelo Espírito do Senhor, durante muitos anos de sua vida oculta e silenciosa.  Ela aprendeu a fé, de maneira peculiar, de Maria Imaculada, a Mãe da fé. Dela aprendeu a “responder ao amor infinito de Deus com o seu Fiat” (CCGG 10), a “contemplar silenciosamente os mistérios de seu Filho, conservando todas as coisas em seu coração” e a seguir a “Cristo pela escuta fiel de Sua palavra” (CCGG 12,14). De Maria, Santa Beatriz aprendeu a ser “plasmada e feita nova criatura pelo Espírito Santo” (CCGG 8), e pode assim, viver em comunhão esponsal com o Senhor Jesus Cristo. Santa Beatriz da Silva viveu sua fé honrando o mistério da Imaculada Conceição de Maria : contemplando em Maria Imaculada o Amor do Pai, a Vida do Filho, a Força do Espírito.
Mas, sem dúvida, em seus muitos anos de vida oculta e silenciosa, Santa Beatriz aprendeu  de  Maria também, a viver a fé  “em existência humilde”, nas simples tarefas cotidianas da vida, no amor e entrega fiel de cada dia. “ Em existência humilde e em atitude permanente de fé, Maria responde ao amor infinito de Deus com seu Fiat” ( CCGG 10). A vida de Maria se realizou em “existência humilde”, no cotidiano, em relações normais... porém, em atitude de fé amorosa e confiante. Retomar estas palavras de vossas Constituições sobre Maria e sua fé, pode ajudar-nos.
 
“Existência humilde” é a maior parte de nossa vida. Porém “existência humilde” indica também algo muito particular de nossa forma de vida . “Existência humilde” nos recorda nossa vocação de minoridade, onde Maria é sempre o modelo e a Mãe da qual aprendemos.
Quando olhamos a Maria descobrimos que a “existência humilde” não é nenhum obstáculo, mas ao contrário, é o lugar privilegiado para viver a Fé. Maria em sua pequenez nos recorda que são os pequenos, os humildes, os simples de coração..., que sabem confiar, buscar apoio, abandonar-se, agradecer, bendizer...
 
 
Fé Celebrada
e Alimentada na Oração
   Estamos chamados a viver a fé com humildade na simplicidade de cada dia. De Santa Beatriz se diz, que : “ Sua fé mostrava-se especialmente nos exercícios diários de piedade. Vivia sempre no espírito de oração, e pensava ininterruptamente em Jesus crucificado com toda a sua alma em Deus”. (Positio). Vossos mosteiros estão chamados a serem lugares onde a fé é celebrada e alimentada no espírito de oração, no permanecer fiel diante do Senhor e com o Senhor.

Haverá momentos em que o permanecer diário na oração será prazeroso e o tempo passará apressadamente; no entanto, haverá outros momentos em que será difícil e o prolonguemos com súplicas e buscando o Senhor. Então podemos olhar a Maria que também teve que buscar a Jesus, pôr-se a caminho, e retroceder, voltar a Jerusalém. Maria aprendeu assim a viver a fé também em busca, em dias prazerosos e dias de angústia ( “Angustiados Te procurávamos, Lc 2,48”). Porém, sempre aberta ao “Espírito do Senhor e sua santa operação com pureza de coração” (R 30).

 Em vossa vida, como na de Santa Beatriz, existem também “exercícios diários de piedade”, tempos fortes de oração litúrgica e pessoal que mantém vossa fé e vossa vida contemplativa. Porem, devemos estar atentos para que no cansaço e no peso da rotina não se perca a entrega, a busca, a paixão pelo Senhor.

Ao anunciar o Ano da Fé Bento XVI nos pedia que fosse uma “ocasião propícia para intensificar a celebração da fé na liturgia, e de modo particular na Eucaristia.” Nossos momentos diários de oração serão firme apoio de nossa fé se neles “descobrirmos novamente prazer de alimentarmo-nos com a Palavra de Deus”, que nos leve ao encontro vivo e profundo com o Senhor. Que esses momentos diários de oração fundamentem vossas vidas porque neles, como Maria, está o vosso Fiat a Deus.

 
Fé celebrada e compartilhada no amor

     Na “existência humilde” pertencem também nosso convívio, nossos encontros diários, especialmente com as Irmãs na vida de comunidade. Chamadas  a viver vossa vida contemplativa em comunidade conheceis os dom das Irmãs; conheceis também a silenciosa entrega, os simples gestos de amor, o serviço feito na gratuidade.  A fé se celebra, se purifica, se acrescenta e se testemunha no amor, de maneira que todos estes encontros e convivência com as Irmãs estão chamados a ser momentos e lugares de fé compartilhada e encarnada. Para Santa Beatriz da Silva a fé era acreditada e acolhida como amor de Deus, amor entregue a Deus e aos homens. Desde pequena aprendeu “que a vida cristã se encontra realmente no amor de Deus” e, “amando a Deus ... exercitava também o amor ao próximo” (Positio).

Também nisto Maria Imaculada é vosso modelo e Mãe, como foi para Santa Beatriz. “Em atitude permanente de fé, Maria resonde ao amor infinito de Deus... convertendo-se em causa de salvação para todo o gênero humano” (CCGG 10). Ela vive a fé no amor. Na visita a sua prima Isabel une o carregar o Filho de Deus em seu seio como amor encarnado num ato humilde de serviço e ajuda. Aquele momento foi então uma celebração de fé compartilhada, uma celebração da presença de Deus e de sua salvação.

 Em sua Carta Apostólica A Porta da Fé, Bento XVI nos dizia: “O Ano da Fé será também uma boa oportunidade para intensificar o testemunho da caridade [...] a fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem fé seria um sentimento constantemente a mercê da duvida. A fé e o amor se necessitam mutuamente [...] é a fé que nos permite reconhecer a Cristo.” (PdF 14)

Vossa vida de comunidade tem também a promessa da presença de Jesus Cristo, de poder converter-se num lugar de encontro com Ele. Talvez na vida comunitária experimentemos agora mais a pobreza, na “existência humilde” por redução do número de forças. São situações que nos pedem confiança e compromisso, fé laboriosa e trabalho confiante. Somos conscientes de que “é a fé que nos permite reconhecer a Cristo” e portanto é a fé que nos coloca na perspectiva adequada. Se somos comunidades que nos ajudamos na fé, se vos sentis unidas como irmãs que foram inspiradas e chamadas a viver a mesma vocação de desposadas com Jesus Cristo, celebrando o mistério de Maria Imaculada, então tereis possibilidades imensas de reconhecer a Cristo presente no meio de vós.

A fé “e o amor se necessitam mutuamente” vossa fé necessita do amor. Sabeis o quanto a vossa fé é devida as Irmãs, a seu exemplo, a sua fidelidade, a seu amor, a sua presença acolhedora, a sua paciência, a sua bondade e compaixão... Sabeis o quanto vossa fé é devida a muitas irmãs que em “existência humilde” estavam sustentando-vos em muitos momentos. Temos muito que agradecer aos irmãos e irmãs que nos acompanham assim na fé. E, ao mesmo tempo, queremos crescer nesta consciência de sermos comunidades chamadas a compartilhar a fé e a celebrá-la no amor. A fé é crer no amor e responder ao amor de Deus é fazê-lo de maneira concreta e encarnada, alegre e gratuita. Quem dá a sua vida pelos demais, pelas irmãs, não a perde, mas sim a reencontra esponsalmente abraçada em que é a Vida, o Senhor Jesus Cristo.

 
Fé celebrada e fortalecida no testemunho

Toda fé, como todo seguimento a Jesus Cristo está chamada a ser missionária. Vossa vida de fé e de seguimento de Cristo, vivendo as atitudes de Maria, ajuda também ser “prolongação ativa da ação divina na história da Salvação e da Igreja” (CCGG 11). Maria por sua fé se converteu em “causa de salvação para todo o gênero humano” (CCGG 10), de maneira especial pela encarnação do Filho de Deus, porem também, por compartilhar continuamente a vida e os mistérios de Jesus Cristo, do seu nascimento até sua morte e ressurreição. A Virgem Maria é assim a nossa Mãe na fé, mostrando-nos o Senhor Jesus e convidando-nos a fazer o que Ele nos diz.

Pela vossa fé tendes a missão de mostrar-nos o Senhor, e com vossa vida convidar-nos a seguir-lhe, a ser plenamente para Ele confiando em sua Palavra. Também aqui “em existência humilde”, a exemplo de Maria. Ela foi anunciadora de Jesus Cristo principalmente por levá-Lo em suas entranhas e em seu coração; por acompanhar e sustentar com sua fé viva e orante aos apóstolos. A missão de Maria não se centralizou na pregação da Palavra, todavia também sua palavra seria palavra carregada de Jesus Cristo. Sua missão centralizou-se mais em ser sua Mãe, em estar cheia de Jesus Cristo, habitada plenamente pelo Espírito de Deus, sendo assim “causa de salvação”, transmissora da graça que a transbordava.

 Com vossa vida orante e contemplativa tendo carismaticamente a Maria Imaculada como caminho de seguimento (cf. CCGG 12), estais chamadas a acompanhar e sustentar com vossa fé a fé da Igreja. Em “existência humilde”, em presença que mediante a acolhida amorosa, a palavra compassiva, a escuta compreensiva..., são imagem do Senhor e causa de sua salvação. A “existência humilde” é a que melhor deixa transparecer e vislumbrar o mistério que a sustém e vivifica. Se os converter em testemunhos vivos da beleza de vosso Esposo Jesus Cristo, vossa fé será fortalecida e aumentada.

Termino recolhendo de novo palavras da Carta A Porta da Fé: « Durante este tempo [o Ano da Fé], tenhamos o olhar fixo em Jesus Cristo, “que iniciou e completa nossa fé: nele encontra sua realização, todo esforço e toda aspiração do coração». O Senhor Jesus Cristo os acompanhe e os leve ao cumprimento de vossa fé.     

 
Carta do Ministro Geral da OFM, Michel A. Perry
pela Comemoração da Festa de Santa Beatriz da Silva, OIC de 2013

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